O poder das ideias é grande. Mas o que acaba por prevalecer são as ideias do poder.
Por muito que Isaiah Berlin exalte o poder das ideias, o diagnóstico de Karl Marx, na obra Ideologia Alemã, mantém-se pertinente: «As ideias dominantes não são outra coisa que a expressão ideal das relações materiais dominantes».
No fundo, as ideias dominantes são as ideias das classes dominantes.
Há ideias que se transformam em poder, mas o poder não se transforma em ideias. Enquista-se nas suas e tende a asfixiar as restantes.
O que triunfa não é a pertinência dos argumentos, mas simplesmente a força do poder.
Muitas foram as ideias que, ao longo da história, geraram sistemas de poder. Mas, nesse momento, foram degeneradas. Nessa altura, até as ideias libertadoras apareceram sob a forma de ideias opressoras.
As ideias passam a ser instrumentalizadas. Destinam-se a exercer uma função legitimadora do poder.
É claro que nunca haverá uma convivência totalmente pacífica entre poder e ideias.
Uma coisa, porém, é certa. Sem liberdade para a expressão das ideias, nenhuma sociedade se desenvolve.
As ideias não são abafadas apenas em ditadura. Podem ser condicionadas mesmo em democracia. Porque, até em democracia, as classes dominantes impõem a sua lei e determinam as regras.
Daí que muitos elejam como prioridade conquistar o poder e não defender ideias. Mas antes ficar com a força da ideias, ainda que sem poder, do que ascender ao poder com a pretensão de eliminar todas as ideias. Excepto as dominantes.