O problema do terrorismo é que a prevenção só começa após a ocorrência.
Dir-se-á que é inevitável, mas acaba também por ser inglório.
Quem ataca fica satisfeito por acertar uma única vez, podendo falhar em todas as outras. Quem se defende não pode falhar nunca. Basta falhar uma vez, para haver danos irreparáveis.
É claro que, no meio disto tudo, há situações que são evitadas. Mas, neste campo, o êxito é sempre parcial. Já o fracasso é sempre total. Uma vida que se perca é um prejuízo irrecuperável.
Como sair deste dédalo alucinante?
Não há uma fórmula infalível. A prevenção tem de ser reforçada. Mas um trabalho que se fique pelo exterior não basta.
O drama maior das tragédias é que elas tendem a multiplicar-se. E o pior é que o seu gérmen pode contaminar as próprias vítimas.
O contributo das religiões é prestimoso, mas o seu passado retira-lhes alguma credibilidade.
Rui Tavares não é crente, mas o texto que assina hoje, nas páginas do Público, vai muito mais além do que se tem ouvido.
Quando se transforma uma mensagem em lei, penalizando-se quem não a cumpre, abre-se caminho para a sanção e para todo o tipo de violência.
Eu sei que isto arrepia, mas Andres Breivik pretendeu ancorar na legislação canónica uma pretensa licitude para o uso da violência. O que incumpre a lei é infiel e, por isso, deve ser afastado.
Quem fizer uma rápida incursão por alguma literatura religiosa, verifica como este género de linguagem está presente.
Nem sequer faltam palavras como ódio. Do ódio à alegada heresia facilmente se passa ao ódio ao putativo herege. Mais: para justificar certas atitudes, os dissidentes são acusados de terem ódio. É uma técnica pouco requintada: projectar nos outros o que sentimos.
Jesus respeitou a Lei, mas não foi pelo caminho da Lei. Tudo compendiou num Mandamento.
Rui Tavares, que não se afirma cristão, apela também para um mandamento: «Não odeies».
De facto, a resposta ao terror (está visto) não se consegue «com prisões secretas, com tortura ou com rendições extraordinárias, com discursos securitários, com violação da privacidade a cidadãos não-suspeitos, com interferências à liberdade de expressão», etc.
No limite, isto só contribui para amplificar o ambiente que se pretende erradicar.
Rui Tavares, com alguma ironia, não se atreve a «propor amar o próximo, amar o irmão de outra religião - seria provavelmente considerado multicultural demais, relativista demais, efeminado demais, politicamente correcto demais - e essas são as grandes vergonhas da nossa época, segundo parece».
O cronista começa por menos: «Não odeies».
«Não odeies o outro. Não odeies o seu erro se queres amar a tua verdade. Não odeies a sua verdade se queres amar o teu erro. É simples. Não odeies nada. Eu disse que era difícil. Não odeies sequer o ódio. O ódio quer ser odiado. O ódio deseja fervorosamente mais ódio. Tu, em resposta, não odeies. Diz aos outros para não odiarem também. E pode ser que este século corra bem».