Aprendemos que antes do princípio era o nada.
Só que o nada é algo que não está ao nosso alcance. O nada, para nós, é, pelo menos, uma palavra, um som, um conceito.
Enfim, o nada é algo que existe para referir o que não existe. A inadequação não pode ser maior.
O mais sensato é dizer que, antes do princípio, não sabemos o que está, nem se está alguma coisa. Não podemos garantir que, antes do princípio, esteja o nada. Antes do princípio, só o silêncio.
No princípio, já era a palavra, isto é, a comunicação, o que nos chega, o eco do que foi acontecendo.
Antes desse princípio, é o silêncio. É o silêncio sobre o que aconteceu ou não terá acontecido. É o que remete para aquilo que não chegou até nós.
O big bang é o corte com esse silêncio anteprimordial. É aquilo sobre o qual já podemos conjecturar.
Sobre o que aconteceu ou não aconteceu antes, nenhuma ressonância. Só um prolongado silêncio. É a única respiração possível.
Antes do que existe não está, obrigatoriamente, o que inexiste. Está, sim, um repousado silêncio que faz a ponte entre a eternidade e o tempo.
É por isso que Thomas Carlyle está carregado de razão quando escreveu que «a palavra é sempre superficial como o tempo; só o silêncio é profundo como a eternidade».