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Terça-feira, 26 de Julho de 2011

Coisa estranha, talvez. Mas, não raramente, são necessárias palavras para redescobrirmos a importância do silêncio. Não só pelo que as palavras dizem sobre o silêncio, mas sobretudo pelo que as palavras dizem sobre si mesmas.

 

As palavras, querendo dizer tudo, por vezes não dizem nada. Já o silêncio, não dizendo nada, permite que se oiça quase tudo.

 

É a falar que nos entendemos. Mas é também a falar que nos desentendemos.

 

É a falar que nos aproximamos. Mas é igualmente a falar que nos distanciamos.

 

As palavras tendem, cada vez mais, a adornar a realidade e a negar a própria realidade.

 

De certo modo, quando falamos, não falamos sobre a realidade. Limitamo-nos a falar sobre as palavras que a dizem. E, quase sempre, desdizem.

 

O silêncio não pretende dizer. Mas também não ambiciona negar. Deixa um vislumbre. Abre pistas. Insinua com subtileza. E permite que se faça o caminho.

 

Os nossos ouvidos estão saturados de palavras. E o nosso coração encontra-se pejado de mágoas pelas palavras que nos entram pelos ouvidos.

 

É possível que o silêncio não nos defenda. Mas também não serão as palavras que nos protegem.

 

Massacram-nos com a máxima de que quem cala consente. Que se saiba, quem cala só consente em não despejar palavras a esmo.

 

Muitas vezes, quem cala acredita mais no valor da palavra guardada do que no efeito da palavra proferida, quiçá gritada.

 

Recorrer a palavras para repor a verdade é, muitas vezes, um exercício inglório no dédalo intempestivo em que se transformou a nossa existência.

 

As palavras servem, hoje, mais para julgar do que para descrever ou contemplar. Deixaram de ter sabor. Têm, pelo contrário, demasiado veneno.

 

Creio, cada vez menos, no ruído das palavras que circulam por reuniões, conferências e simpósios.

 

Não falta quem proponha, quase diariamente, iniciativas para serem ouvidos.

 

Era bom que aqueles que falam e decidem se pusesem à escuta e se colocassem à espera.

 

Há quem tenha sempre uma palavra na ponta da língua. Como era importante que tivessem também um coração disponível para ouvir.

 

A pergunta é a oração do pensamento. Admiro, e temo, quem debita respostas atrás de respostas sem cuidar de atender às interrogações que palpitam.

 

O Livro do Silêncio, de Sara Maitland, é tecido de palavras que escorrem em muitas páginas. Mas remete, de uma forma refrescante, para o aconchego do silêncio.

 

Eis uma boa proposta para este Verão. A obra acaba de sair.

 

Mergulhemos neste livro. E habituemo-nos a escutar a palavra que nos vem não apenas dos lábios, mas também de um riacho, de uma brisa, de um monte.

 

O silêncio não é quando a comunicação acaba. O silêncio pode ser quando o encontro começa.

publicado por Theosfera às 11:52

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