Deste domingo ecoa uma notável entrevista a Frei Bento Domingues.
Realce, desde logo, para a coerência e o desassombro.
Muitos lugares-comuns, em que nascemos e fomos (de)formados, são questionados.
Pertinente a referência a uma posição de S. Tomás: «Se faço uma coisa porque está mandado, mesmo que seja por Deus, não sou livre. Só sou livre quando faço, ou deixo de fazer, porque é mal ou bem».
Este discernimento está em linha com o pedido de Salomão que escutámos na Missa deste dia. Ele pede um coração inteligente para discernir o mal do bem.
A capacidade de ascender à verdade é um dom que Deus ofereceu a cada ser humano. Está por isso para lá do escrutínio da autoridade.
Frei Bento dissente, por isso, do preceito de Sto. Inácio: «Se vês que é branco, mas a hierarquia te diz que é negro, tens de dizer que é negro».
A Igreja nunca pode ser um partido e os modos de actuar têm de ser necessariamente diferentes. «A vida é mística e o místico é aquele que nunca pode parar porque o seu desejo é mesmo de infinito».
É preciso estar atento ao sectarismo, quer do ponto de vista religioso, quer do ponto de vista político. «O sectarismo cega. A pessoa já não vê nada ao lado, e também não pode ver nada à frente, as transformações».
Deus é um tesouro, muitas vezes, escondido num campo que é a nossa consciência. Com todos os riscos, é a ela que temos de apelar em último caso.
Sagrado não é só o templo. Sagrada não é apenas a lei. Frei Bento sublinha que, antes de mais, «sagrado é o ser humano».
Nunca podemos, por isso, acenar com o medo. «Deus não é temor. Deus é amor. Escolhi isso para a minha vida. Se Deus não nos amasse, iria para o desemprego, porque Deus só sabe amar».
Notável. Para ler e guardar.