O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Terça-feira, 19 de Julho de 2011

A história mais fácil é a que se faz a partir de cima. A história mais justa é que tem de ser feita a partir de baixo. E a história mais bela é a que se refaz a partir de dentro.

 

A história que melhor se conhece é a primeira, a que se faz a partir de cima, dos vencedores, dos dirigentes. Uma obra é conhecida pelo seu arquitecto, raramente pelos seus operários. Mas são estes que trabalham. Um exército é imortalizado pelo seu comandante, quase nunca pelos seus soldados. Mas são estes que combatem.

 

Recentemente, sobretudo com George Rudé e Eric Hobsbawn, começou a haver maior sensibilidade para a história a partir de baixo, da gente inominada. Mas há ainda um longo caminho a percorrer.

 

Até na Igreja e apesar da fundamental igualdade entre os membros do Povo de Deus, a atenção concentra-se em quem está à frente...

 

Acontece que a história a partir de dentro é que corre o risco de ficar na penumbra. Por um lado, percebe-se. Há quem opte por estar longe do palco. Mas, por outro lado, a nossa atenção também anda distraída, focada no palco.

 

Há pessoas que deixam rasto. Mas a sua profundidade colide em demasia com a nossa superficialidade.

 

Acontece que, por vezes, fica uma palavra ou sobram uns papéis. Sempre é uma pista que nos permite aceder a almas de um nível superior.

 

Uma das trajectórias mais interessantes do século XX foi, sem dúvida, a de Etty Hillesum. Viveu poucos anos. E porque nasceu judia, morreu em Auschwitz, antes dos 30 anos.

 

Teve um percurso atormentado em todos os capítulos. O seu encontro com Deus foi inesperado e nem o sofrimento a fez abalar.

 

Os místicos tornam-se sempre surpreendentes.

 

Etty Hillesum gostava de se ajoelhar e, deste modo, sentir a impotência de Deus.

 

Cultuava o silêncio para estar mais atenta ao que chega de fora e ao que brota de dentro.

 

Leitora dos clássicos, como Dostoievksy (que levou para o campo de concentração), costumava repetir uma máxima de Rilke: «A paciência é tudo».

publicado por Theosfera às 11:32

De António a 19 de Julho de 2011 às 13:28
"Dentro de mim há um poço muito fundo. E lá dentro está
Deus. Às vezes consigo lá chegar. Mas acontece mais frequentemente haver pedras e cascalho no poço, e aí Deus está soterrado. Então é preciso desenterrá-lo. (26 de Agosto de 1941)

Etty Hillesum

De Theosfera a 19 de Julho de 2011 às 13:35
Obrigado, bom Amigo, essa é uma das frases de eleição da minha vida. Abraço grande no Senhor Jesus.


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