Muitas vezes, passamos ao lado da actuação de Deus no mundo. Olhamos mais para as nossas palavras do que para os Seus silêncios.
Imaginamos que Deus é a solução para os nossos problemas, quando Ele, na Cruz, mostra ser a companhia nas nossas dificuldades.
O maior contributo para esta presença de Deus veio, no século XX, através de pessoas que experimentaram o sofrimento no seu ápice.
Em Auschwitz, Dietrich Bonhoeffer escreveu que «Deus permite que O marginalizem do mundo, empurrando-O para a Cruz». Por isso, Ele «é fraco e impotente». Mas é por essa (única) forma que «Ele está connosco e nos ajuda».
Etty Hillesum, também ela condenada ao campo de concentração, não fica amargurada nem abandona a fé. Também para ela, Deus é uma «presença vulnerável» que deve ser cuidada e amada no coração humano.
É neste registo que ela se dirige a Deus: «Tu não nos podes ajudar, mas nós temos de Te ajudar a Ti e de defender o lugar da Tua morada dentro de nós até ao fim».
O mistério de Deus não está apenas na Sua transcendência. Continua a prolongar-se na Sua imanência. Deus escolheu estar ao nosso lado. Chorar as nossas lágrimas. Sofrer as nossas dores. Andar os nossos passos.
É assim que Ele Se mostra como o todo-amoroso. É no amor impotente que se encontra o máximo do Seu poder.
Importa, por isso, escutá-Lo na Sua (aparente) ausência e no Seu (deliberado) impoder.