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Quinta-feira, 14 de Julho de 2011

O mais poderoso é, às vezes, o mais frágil.

 

Para se aferir a popularidade de alguém, invoca-se, amiúde, o argumento das multidões que arrasta.

 

Só que o mais fácil é arregimentar multidões.

 

Em todos os países, os principais partidos não têm dificuldade em mobilizar multidões. As imagens de muita gente reunida dá uma impressão de vitória. Na sociedade do espectáculo, isto tem o seu impacto. Mas no silêncio das urnas, o escrutínio é bem diferente.

 

Se tomarmos em conta unicamente o argumento das multidões, diremos que todo o mundo gosta de futebol (basta ver um estádio cheio) ou que toda a gente gosta de música (é só olhar para um concerto a abarrotar).

 

Por vezes, em Igreja, também se propende a este argumento. Quando o Papa vai a algum lado, as multidões aparecem e com supino entusiasmo.

 

Isso tem o seu valor e merece ser realçado. Só que, por si, não chega.

 

Por um lado, a adesão à mensagem não se afere pelo entusiasmo de um dia, mas pela persistência de todos os dias. E, por outro lado, sempre é mais fácil juntar pessoas numa praça do que congregar vontades nos mais remotos lugares.

 

A vida é feita de tudo e também inclui as grandes concentrações. Só que isso não é o suficiente. O mais importante é o trabalho escondido, que emerge no silêncio. O essencial é, como dizia Saint-Exupéry, invisível aos olhos.

 

Aliás, a falência do argumento das multidões está ínsita na vida de Jesus. Uma multidão O aclamou. Uma multidão exigiu a Sua condenação.

 

Acresce que a multidão pertence ao que há de mais volátil. Depressa se forma e depressa se dissolve.

 

Mas há poderes que estão sempre atentos às multidões. Já os antigos (Políbio e Aristóteles, por exemplo) falavam da oclocracia, uma espécie de governo da multidão.

 

Não falta quem esteja à escuta do eco quer das multidões ruidosas, quer das multidões silenciosas.

 

Há, de facto, a multidão que exige e a multidão que consente.

 

Muitas coisas se obteriam e muitas outras se evitariam se as multidões tomassem posição.

 

O que aconteceu nos países árabes é bem o efeito do impacto das multidões.

 

Às vezes, leva muito tempo. Estou certo de que a manifestação da Praça de Tianamenn terá, na altura própria, o resultado esperado.

 

É pena que, não raramente, as multidões sejam informes. E que tanto dêem para o melhor como para o pior.

 

Não podemos passar ao lado dos sinais das multidões. Mas pode ser deveras perigoso seguir os seus impulsos.

 

As ditaduras também vivem do aplauso das multidões. E dos seus prolongados silêncios.

 

Regra geral, é sempre tarde quando acordam.

 

A multidões também dormem. E o seu ressonar chega a ser perturbador.

publicado por Theosfera às 23:12

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