No passado Domingo, Jesus falava dos pequenos. Neste Domingo, fala do pequeno.
Holderlin estava certo. Divino não é o o grande caber no grande. Divino é o infinitamente grande caber no infinitamente pequeno.
Aos mais pequenos é oferecida a verdade que os que se presumem sábios não conseguem captar. Como, por exemplo, aquela que compara o reino de Deus a uma semente, algo imperceptível nos seus começos.
A inteligência de extracção metafísica extrapola a divindade a partir do grande. Quanto maior, quanto mais aparatoso, mais próximo de Deus.
Achamos que Deus está no alto. Ora, Jesus ensina-nos que, para encontrar Deus, o primeiro passo não é olhar para cima. É olhar para dentro, para o fundo.
O reino de Deus é como a semente lançada à terra. Para Deus, como avisava Agostinho, sobe-se descendo.
É preciso ser pequeno para reparar no pequeno. Por isso é que o crente tem de aliar a complexidade da inteligência à simplicidade do coração.
É fundamental não pretender determinar a ontologia do divino. As comparações a que Jesus recorre apelam para uma obscuridade iluminadora a que, por hábito, não prestamos atenção.
Jesus deixa muito em aberto. Não define. Não conceptualiza. Insinua. Alvitra. Aponta. Remete. Confia. Põe nas nossas mãos a possibilidade da descoberta e a surpresa do encontro.
Não decide tudo à partida. É por isso que nem tudo é claro ao nosso entendimento. Deus só Se esclarece na bondade do coração, na rectidão da consciência.
Deus não está apenas na doutrina revelada. Está também no segredo escondido. Não Se encontra somente na palavra do pastor. Encontra-Se igualmente no silêncio da consciência.
O terreno onde a semente é lançada é a nossa vida. Deus quis-Se antropomorfo e quer que o homem se torne teomorfo.
Não é com um discurso contra o mundo que se chega a Deus.
Como poderia sê-lo quando o mesmo Deus Se encontra no mundo?
Arnold Toynbee alerta que o mundo é uma província do Reino de Deus.
Humanizar o mundo, fraternizando-o, é entretecer o maior hino de louvor ao Criador e Plenitudinizador da história.
Deus não Se apaga quando se participa na (re)construção da humanidade.
A Teologia primeva percebeu belamente esta presença de Deus na alma humana. S. Justino falava das sementes do Verbo em todos os homens.
Deus quer dizer-Se humanamente. Para que o homem se realize divinamente!