Se quisermos escutar as vozes mais respeitadas da vida pública, facilmente daremos conta de que três delas já ultrapassaram os 80 anos e a quarta dos 80 se aproxima.
Este é um sinal de pujança dos próprios e um sintoma de decadência da sociedade.
Mário Soares, Eduardo Lourenço, Adriano Moreira e António Barreto despontam como os últimos abencerragens de um perfil superior de análise, de lucidez e de brilho.
É claro que haverá mais, mas não em número muito elevado. A principal razão para esta rarefacção da qualidade está na falta de cultura humanista, que se vai notando.
Diz-se (e, factualmente, é verdade) que esta é a geração mais preparada de sempre. No que toca às especialidades, nada a obstar a este dado. Só que a sabedoria é, por natureza, o espaço da complexidade.
Saber é ligar. O pensamento é cada vez mais imediato, repentista.
O debate no parlamento e na comunicação é de uma pobreza confrangedora.
A reacção à decisão de uma agência de notação financeira foi demasiado pálida.
A intervenção de Mário Soares, já retirado da política activa, foi muito mais consistente que a dos políticos em actividade.
As humanidades não deviam pertencer a nenhuma especialidade. Deviam ser transversais a todos os cursos e a todos os graus de ensino.
Hoje, mal se consegue sair do domínio da formação de cada um.
O discurso é imaturo e básico, muito refém de preconceitos e lugares-comuns.
Os grandes homens compreendem a realidade. Os homens de excepção são capazes de a transformar.
Ver que a sua maioria já ultrapassou os 80 anos não é muito alentador. Que, ao menos, seja o sinal para trabalharmos melhor o futuro.
Precisamos de pessoas com alma. Não é só com gestores que a crise será vencida.