A União Europeia não será a maior realização da história, como disse ontem o Dr. Mário Soares. Mas é, seguramente, uma das maiores conquistas do espírito humano.
É um espaço onde não há guerras e onde existe cooperação a vários níveis.
Com os seus defeitos (que os tem e não são poucos), ela constitui uma bela criação. Começou pela Comunidade do Carvão e do Aço, passou pela CEE de poucos países e já vai numa união de quase trinta nações.
É natural que, como tudo o que é bom, esta entidade suscite hostilidade.
A União Europeia vai-se consolidando no plano político, mas está a ser posta à prova no âmbito económico.
A tese pode ser um pouco especulativa, mas faz algum sentido e o Dr. Mário Soares expô-la ontem com o brilho da sua inteligência intuitiva.
O que se passa com as agências de notação financeira pode ser a ponta do iceberg de um ataque do dólar contra o euro e, mais vastamente, contra a União Europeia.
De facto, mais do que Portugal, desta vez é a União que está em causa. Porque o Governo limitou-se a transpor o programa que a troika impôs.
Os mercados não estavam tranquilos antes do programa de austeridade. Os mercados continuam a não estar tranquilos com o anúncio desta austeridade.
Se o objectivo era acalmar os mercados, parece que o desiderato não está a ser conseguido.
Há uma arbitrariedade em todo este universo. A economia norte-americana está com uma dívida colossal e as sobreditas agências de notação atribuem-lhe a cotação máxima.
Lipovetsky já tinha avisado. O mercado está a regular a política quando devia ser a política a regular o mercado.
A Europa tem de acordar e de ser fiel ao espírito dos seus pais fundadores. O objectivo da política é servir as pessoas. E não asfixiá-las.