A procura está ínsita no humano porque é conatural à condição de vivente.
Ainda que idoso, diz Herman Hesse, o homem «não desiste de procurar. Nunca desistirei de procurar».
É que «procurar significa ter um objectivo» e não ficar dependente das descobertas dos outros. Tanto mais que «a sabedoria não pode ser partilhada. A sabedoria que um sábio tenta partilhar soa sempre a loucura».
É certo que «podemos partilhar conhecimentos, mas não a sabedoria. Podemos encontrá-la, podemos vivê-la, podemos ganhar importância com ela, podemos fazer maravilhas com ela, mas não podemos comunicá-la e ensiná-la. Foi isso que me afastou dos mestres».
Porquê?
Porque há muitos mestres e muitas palavras para expressar o que eles pensam. «Por cada verdade, o contrário é igualmente verdade. Mais concretamente: uma verdade apenas se deixa exprimir e envolver em palavras quando é parcial. Tudo o que pode ser pensado com o pensamento ou dito com palavras é parcial. Tudo é parcial, tudo é metade, a tudo falta totalidade, integralidade, unidade».
É por isso que «uma pessoa nunca é completamente santa ou completamente pecadora».
O mundo «é perfeito em todos os instantes, a misericórdia já contém em si todos os pecados, todas as criancinhas têm já dentro de si a velhice, todas as crianças de peito têm a morte, todos os moribundos têm a vida eterna».
É a esta luz que «tudo o que existe me parece bom, a morte e a vida, o pecado e a santidade, a sensatez e a loucura, tudo é necessário dessa maneira, tudo necessita apenas do meu acordo, da minha boa vontade, da minha afectuosa compreensão».
As palavras, por vezes, ofuscam o sentido profundo da realidade: «Tudo o que é igual torna-se sempre um pouco diferente quando é dito em voz alta, um pouco falseado, um pouco louco».
Por isso a atenção está voltada para a realidade, para as coisas. «Eu considero mais importante amar o mundo, não o desprezar, não o odiar nem me odiar, observá-lo, a mim e a todos os seres, com amor, admiração e respeito».
Neste sentido, «a acção e a vida são mais importantes que o discurso, os gestos das mãos mais importantes que as ideias. Não vejo a grandeza no falar ou no pensar, apenas no agir, no viver».