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Segunda-feira, 13 de Junho de 2011

1. Por mais irrefutáveis que sejam os factos, jamais existirá objectividade total e unanimidade plena diante deles.

 

Os factos podem ser objectivos, mas a pessoa que os apreende e analisa (por muito esforço que faça) será sempre subjectivo.

 

Alçada Baptista apercebeu-se: «Se fosse objecto, seria objectivo; como sou sujeito, serei sempre subjectivo».

 

Daí que a unanimidade perante um acontecimento seja, pura e simplesmente, impossível. Nélson Rodrigues, escritor brasileiro, foi ao ponto de proclamar que «a unanimidade é burra».

 

Mesmo em tempos de pensamento único, como tendem a ser os nossos, haverá sempre olhares divergentes e vozes dissonantes.

 

 

2. Sucede que, até diante daquilo que nos parece o bem supremo ou o mal absoluto, há sempre quem fuja ao consenso.

 

O caso de Hitler é eloquente. Perante as atrocidades que cometeu, as mortes que provocou, os ódios que acendeu e as feridas que abriu, será possível que alguém o admire?

 

Uma resposta afirmativa faz-nos arrepiar por todos os lados. As ocorrências não dão margem para dúvidas por muito branqueamento que alguma mentalidade negacionista pretenda implantar.

 

O certo é que, ultimamente, duas figuras mediáticas vieram sobressaltar a nossa consciência.

 

No início do ano, o estilista John Galliano foi surpreendido por um vídeo em que confessava o seu amor por Hitler.

 

Imediatamente foi demitido pela Christian Dior «em razão do seu comportamento de carácter particularmente detestável».

 

Mais recentemente, o realizador dinamarquês Lars von Trier escandalizou o mundo ao assumir que simpatizava com Hitler: «Acho que ele fez coisas erradas, sem dúvida. Quero apenas dizer que compreendo o homem. Não é o que poderemos chamar um tipo bom, mas compreendo-o bastante bem. E até simpatizo um pouco com ele».

 

É claro que, pouco depois, tentou emendar o que tinha dito, assumindo-se como um provocador, alegando ter sido mal interpretado e reconhecendo que «o Holocausto foi um dos crimes mais bárbaros cometidos contra a humanidade».

 

Mas já era tarde. E a organização do Festival de Cinema de Cannes expulsou-o.

 

A avaliação do nazismo será das poucas coisas que não admite pluralismo numa sociedade minimamente decente.

 

 

3. E, no entanto, há correntes ideológicas que, embora marginalmente, persistem em justificar, branquear ou até negar o Holocausto. Houve até uma tentativa (não muito bem sucedida, diga-se) de enquadrar teologicamente o nacional-socialismo!

 

O intento foi do bispo católico Alois Hudal que, em 1936, publicou um livro com o título Os fundamentos do nacional-socialismo, cujo argumentário faria arrepiar o mais insensível.

 

No estudo que faz do nazismo, Alois Hudal aponta algumas afinidades com o catolicismo, nomeadamente a comum convicção em torno da «obediência cega à autoridade».

 

Também o anti-semitismo hitleriano encontrava eco nos resquícios que perduravam da desconfiança cristã em relação aos judeus.

 

Como assinala Timothy Ryback, Alois Hudal «acreditava que os alemães poderiam criar uma forma de fascismo catequizado que representaria a mais poderosa força política e social do continente».

 

Acresce que aquele bispo, ao ler o Mein Kampf, ficara extasiado ao saber que Hitler tinha sido menino de coro no mosteiro de Lambach, cujo abade lhe surgia como a personificação do «mais alto e mais desejável ideal».

 

O livro é enviado a Hitler com uma dedicatória muito encomiástica: «Ao Fuhrer da ressurreição alemã»! 

 

 

4. O problema é que a reacção não foi a esperada.

 

Do lado nazi receava-se que a obra diluísse a essência do regime, ancorado num pretenso racismo científico.

 

Por sua vez, o Vaticano chegou a ponderar colocar o texto no Índex dos livros proibidos. O Papa Pio XI recusou-se a receber o autor e os bispos alemães chamaram-lhe «bispo nazi».

 

Já antes da publicação, o Pontífice garantira a Alois Hudal nada haver de espiritual no nacional-socialismo, assegurando não acreditar na possibilidade de um entendimento.

 

A vida do prelado foi completamente afectada. Depois da guerra, abandonou as suas funções e recolheu-se num mosteiro recôndito.

 

Por maior que seja o engenho, não será possível compabilizar o que, por natureza, é incompatível.

 

A objectividade nunca será total. Mas o subjectivismo também tem limites. E há factos que nem os argumentos mais retorcidos conseguem alterar.

publicado por Theosfera às 10:27

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