João XXIII teve a preocupação de reconciliar a Igreja com os tempos actuais.
A Igreja devia pôr-se ao dia - eis o que ele queria dizer com a conhecida palavra aggiornamento.
Também terá manifestado a vontade de ver entrar ar fresco pelas janelas da Igreja. Ou não se fosse o Papa bom um homem do espírito, que, em hebraico, se diz ruah e que significa brisa, vento.
Não faltou, porém, quem vaticinasse exposição desmedida a perigos futuros.
Na biografia que escreveu, Franco Nogueira conta que Oliveira Salazar viu com muita apreensão a abertura de João XXIII. Perante o referido aggiornamento, terá comentado algo do género: «Este Papa está a abrir as janelas; tem de se preparar para uma grande tempestade».
Só que a experiência mostra que, por vezes, é depois das tempestades que damos conta das debilidades da construção. É depois das tempestades que reparamos as casas. E o resultado até costuma ser melhor.
Afinal, os tempos estão sempre a emitir sinais. O Papa bom soube estar atento. A sua confiança era maior que o seu temor. A confiança em Deus e nos homens sobrelava o receio das tempestades.
Nenhum temor abala um coração magnânimo.