Quando há um crime, imediatamente lamentamos a ocorrência e depressa fazemos um juízo e apontamos um culpado.
Sucede que, nestas alturas, esquecemo-nos de uma coisa.
A culpa não pode ser ignorada, mas a responsabilidade também não pode ser negligenciada.
E, regra geral, a responsabilidade é mais extensa que a culpa, abrange um número maior de pessoas e circunstâncias.
Fiódor Dostoiévsky, que perscrutou como poucos a profundidade da alma humana, previne: «Lembra-te de que não podes ser juiz de ninguém». É que, «se eu próprio fosse justo, talvez não houvesse um criminoso diante de mim».
Tal como o crime se repercute em mais crime, também a justiça se reproduz em mais justiça: «O justo morre, mas a luz dele sobrevive. Alguém se salva sempre depois da morte do salvador».
Enquanto persistir um criminoso, há motivos para temer o prosseguimento do mal. Mas enquanto sobreviver o último justo, não desaparecerá a esperança de que o bem, afinal, pode vencer.
Antes de julgar, julguemo-nos. Cabe-nos uma significativa quota parte de responsabilidade quer no mal que se difunde, quer no bem que se semeia.