Pode parecer estranho que um homem da imagem se recuse a apresentar a sua.
Mas o realizador Terrence Malick tem uma explicação: a sua obra já fala por ele, não é necessário que ele fale.
Em Cannes voltou a não aparecer apesar de ter vencido o prémio de realização.
Diz quem o conhece que é um tímido incorrigível e que se trata de alguém genuinamente humilde.
Eu sou tentado a dizer que este é um acontecimento mais relevante que o próprio festival.
Estamos num tempo e vivemos num mundo em que muitos se atropelam para aparecer.
Entre nós, temos alguém semelhante a Malick.
Herberto Hélder (para alguns, o maior poeta português vivo) recusa-se não só a aparecer, como tem recusado todos os prémios que lhe atribuem, inclusive o célebre Prémio Pessoa.
António Ramos Rosa, outro nome importante, também sempre se destacou por uma obscuridade voluntária que acaba por melhor fazer sobressair a sua obra.
Sto. António de Lisboa, mestre da oratória, apelava ao silêncio das palavras e à eloquência das obras: «Cessem as palavras e falem as obras, de palavras estamos cheios e de obras vazios».
Não diabolizo a informação e a publicitação dos acontecimentos. Mas entedia-me o frenesim mediático em que, actualmente, se vive.
E não há dúvida de que a melhor palavra não é a que sai dos lábios. É a que brota da vida.