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Quarta-feira, 11 de Maio de 2011

Numa altura em que tanto se compete no uso da palavra, talvez não fosse inoportuno reflectir sobre a importância do silêncio.

 

É claro que não é fácil encontrar a medida justa. À semelhança de Gregório Magno, já todos nos arrependemos de ter calado quando deveríamos falar e de ter falado quando nos deveríamos calar.

 

Post factum, sabemos melhor. Mas não há dúvida de que o silêncio pode ser tão eficaz como a palavra. Perceber a sua oportunidade é o segredo da sabedoria.

 

Tendo sido Winston Churchill tão expedito no uso da palavra, há um episódio em que o seu silêncio se revelou determinante: para a sua carreira, para o seu país e até para o mundo. Santana Castilho faz-se eco deste caso num texto que assina no Público.

 

Quando Chamberlain compreendeu que não era o primeiro-ministro adequado para liderar o Reino Unido na guerra, escolheu, como era tradição no partido conservador inglês, o seu sucessor: Lorde Halifax.

 

Mas Chamberlain queria um governo forte e sabia, por isso, que era indispensável que Churchill fizesse parte do elenco. Convocou-o e disse-lhe:

- Halifax é o melhor, mas temos necessidade de si. Aceita ser o número dois?
 
Churchill, por patriotismo e por dever, disse que sim. 
 
Horas depois, Lorde Beaverbrook, magnata da imprensa inglesa, pediu a Churchill para o receber com urgência e disse-lhe:
- Não é possível! Aceitou que seja Halifax o primeiro-ministro?
 
Churchill respondeu que se tratava de um assunto de Estado e que não seria curial discuti-lo com ele. Beaverbrook insistiu. Churchill respondeu que não tinha outra saída. E Beaverbrook voltou à carga:
- É um crime contra a Nação! Só você poderá mobilizar a Grã-Bretanha.
 
No fundo, Churchill concordava com Beaverbrook. Mas objectou que tinha dado a sua palavra e que não voltaria atrás. Então, Beaverbrook disse:
- Peço-lhe, ao menos, uma coisa. Quando for convocado por Chamberlain, com Halifax, e Chamberlain lhe perguntar se confirma a sua aceitação, fique em silêncio durante três minutos. Três minutos completos. Em nome da Inglaterra, peço-lhe!
 
Churchill achou isto impertinente e não viu como isto poderia mudar a situação. Mas, como tinha amizade e estima por Beaverbrook, prometeu-lhe que o faria.
 
No dia seguinte, Churchill e Halifax encontraram-se no gabinete de Chamberlain, na Dowing Street. Chamberlain pediu a Churchill:
- Pode confirmar, se faz favor, a Lorde Halifax, que aceita fazer parte do seu governo?
 
Churchill ficou calado. Passou um minuto, e Churchill continuava em silêncio. Minuto e meio depois, Churchill permanecia em silêncio. Ainda não tinham transcorrido os três minutos, lorde Halifax não aguentou, exclamou e saiu:
 
- Creio que é Winston Churchill que deve ser o primeiro-ministro!
 
Não hesitemos em recorrer à terapia do silêncio. Até para recuperar o valor da palavra. O descrédito do discurso começa a ser saturante.
 
Uma palavra só é devidamente acreditada quando é germinada no silêncio.
 
É o silêncio que fermenta a palavra mais sólida.
publicado por Theosfera às 10:19

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