Nesta hora, o pior que nos pode acontecer, a par da desesperança, é a indiferença.
Por muito menos, há quem indigne muito mais.
Stéphane Hessel publicou um livro onde convida à indignação. O prefácio pertence a Mário Soares, famoso por ter defendido, em tempos, o «direito à indignação».
A bem dizer, trata-se de um opúsculo, o que prova que não é preciso a um livro ser grande para se tornar um grande livro.
Em vários países, tem sido um êxito editorial estrondoso, tanto mais que o autor já leva 93 anos de vida.
Começa por questionar a ideia de que «o Estado já não consegue suportar os custos das medidas sociais. Mas como é possível que, actualmente, não tenha verbas para manter e prolongar estas conquistas, quando a produção de riquezas aumentou consideravelmente» desde o fim da segunda grande guerra, «quando a Europa estava arruinada»?
A resposta vem pronta: «Porque o poder do capital nunca foi tão grande, insolente, egoísta, com servidores próprios até nas mais altas esferas do Estado».
Ou seja, enquanto, primeiro, se procurava colocar o capital ao serviço das pessoas, agora a tendência é para posicionar as pessoas ao serviço do capital.
No primeiro caso, o dinheiro é um instrumento. No segundo, o lucro é um fim. O fim supremo?
A história não muda quando as pessoas se deixam subjugar pelos seus receios. A história pode mudar quando as pessoas se deixam guiar pela indignação.
Não é preciso que toda a gente se manifeste. Basta que «uma minoria activa se insurja». Teremos, então, «o fermento necessário para levedar a massa».
A indiferença é a pior das atitudes. Não podemos presumir que as decisões são com os outros. O tempo é da política. Mas é sobretudo da cidadania.
Tudo isto tem de ser feito de modo não violento. É preciso aprender a conjugar a indignação com a paz.
Será possível?