Causou estranheza a muita gente que Barack Obama tivesse invocado o nome de Deus, por mais de uma vez, na comunicação onde anunciou a morte de Ben Laden.
O presidente do Peru foi mesmo ao ponto de considerar este o primeiro milagre obtido pela intercessão no novo Beato João Paulo II!
Como todos se lembram, o nome de Deus era também utilizado por Ben Laden e por outros terroristas.
Ora, isto reconduz-nos ao que José Saramago denunciara com a sua acidez impenitente. Parece que um deus andou a semear ventos e outro deus andou a colher tempestades.
Dir-se-ia que se a verdade é a primeira vítima da guerra, Deus não é a última.
Quando ouvimos mais depressa recorrer a Deus para a guerra do que para a paz, estamos a prestar um péssimo serviço Àquele a quem, supostamente, queremos louvar.
No fundo, dizemo-nos religiosos e nem sequer percebemos o básico do religioso: ligar e não desligar, muito menos eliminar.
A história religiosa está cheia de instrumentalizações que nos deviam fazer corar.
Enquanto não tolerarmos o discrepante, enquanto não avançarmos para o consensuante (estou a socorrer-me de fecundas expressões de Pedro Laín Entralgo), continuaremos longe do essencial.
O inquisidor de Dostoiésvsky censurava Jesus por ter colocado a liberdade à cabeça de tudo. Só que teimamos em não aprender com Ele.
Eliminar o diferente é uma tentação muito grande. De parte a parte.
Hoje, muitos vão deitar-se aliviados. Será que, amanhã, irão despertar sem medo?
Precisamos de algum tempo para saber se, com a morte de Ben Laden, o 11 de Setembro ficou liquidado ou se, pelo contrário, não continuará a ter penosas réplicas.
As trevas persistem em não nos deixar.
Sobre tudo isto, mantenho no essencial o que assumi aqui.