Será o ateísmo uma pura negação? Ou não será, antes, uma ânsia de purificação?
Traduzirá ele uma ruptura? Ou não constituirá, em vez disso, uma nostalgia, uma espécie de saudade que Andrés Torres Queiruga descreve como sendo «a presença na ausência»?
Surgiram, neste dia, dados atinentes a uma sondagem segundo a qual a descrença vai crescendo na Europa.
Só que este tipo de estudos tende a fundir elementos que importaria distinguir.
Como é que se avalia um comportamento ateu? Pelo afastamento da Igreja? Por um estilo de vida meramente consumista, etsi Deus non daretur? Mas não é isso também o que acontece com muitos que se dizem crentes?
Já agora, não seria interessante incluir, nesses estudos, uma pergunta relativamente à relação com Jesus?
Não escondo a minha curiosidade em comparar os resultados. A resposta à questão sobre Deus será exactamente a mesma que a resposta à questão sobre Jesus?
No fundo, não estaremos diante de um problema de credibilidade? Será que a forma como as igrejas falam de Deus corresponde ao modo como Jesus deixava transparecer o Pai?
No limite, não poderá Deus ser vítima das próprias igrejas?
O ateísmo leva-nos sempre muito longe. E, como advertem os melhores teólogos, ele acaba por ser um irmão gémeo da fé. Irmão talvez desavindo, mas muito próximo.
A interacção entre a fé e a descrença é um tópico que não podemos negligenciar.