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Segunda-feira, 25 de Abril de 2011

Há 37 anos, neste dia, devia estar na escola, mas fiquei em casa. Não foi por causa da revolução. Foi devido a um acidente que tivera no dia 7 de Abril, no qual fracturei o braço direito.

 

Como não podia escrever, o professor achou melhor que recuperasse em casa.

 

Mas, mesmo assim, durante a maior parte do dia ninguém na aldeia se apercebeu de nada. 

 

As pessoas estavam nos campos e a televisão só se ligava à noite.

 

Só a meio da tarde, por volta das quatro horas, a minha Madrinha passou por casa e disse que alguma coisa estava a acontecer em Lisboa.

 

Nesses tempos, os telejornais eram às nove e meia da noite.

 

No entanto, nesse dia, começaram a surgir informações mais cedo. Anunciava-se, a qualquer momento, um comunicado da Junta de Salvação Nacional.

 

Apesar de cansados, os meus Pais foram ficando à espera e, apesar dos meus nove anos, fiquei com eles.

 

Até que, penso que já perto da meia-noite, a referida Junta apareceu. As atenções estavam fixadas no General António Spínola.

 

A única coisa que retenho do discurso foi a sua alusão à defesa da moral. Nessa altura, o meu saudoso Pai disse: «Podemos ir dormir, porque tudo vai correr bem».

 

E lá fomos descansar. Nos dias seguintes, tudo na aldeia continuou igual.

 

Havia um ambiente de incerteza, mas também uma sensação de descompressão. 

 

A canção de Paulo de Carvalho E depois do adeus passava com insistência. Tinha sido a vencedora do Festival, ocorrido uns dias antes. Recordo que a música preferida na aldeia tinha sido No dia em que o rei fez anos, de José Cid.

 

Hoje em dia, por muito desinformado que alguém esteja, é impensável que aconteça uma revolução de madrugada e uma aldeia inteira só dela saiba a meio da tarde.

 

Outros tempos. Mas aquele dia inicial nunca se apagou da minha memória.

publicado por Theosfera às 09:34

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