O Sábado Santo é uma espécie de entretanto entre a comemoração da morte e a celebração da vida. Entre a Cruz e a Ressurreição, há a sepultura.
O trânsito ocorre aqui. A Páscoa está, literalmente, em marcha. A passagem da morte para a vida faz-se no silêncio da espera.
Nada há mais distante. Nada existe tão próximo. A morte é a negação da vida. A vida é a superação da morte. Entre uma e outra um dia de espera, de expectativa.
Há, aqui, uma realidade e um sentido, um significante e um significado.
Desde logo, não é para o alto que devemos olhar. É para as profundidades que temos de nos dirigir.
Estamos no fundo? Mas é do fundo que tudo parte.
A grande lição do Sábado Santo é que não há motivos para o derrotismo (próprio de Sexta-Feira Santa), mas também não há ainda razões para a euforia (aceitável em Domingo de Páscoa).
O Sábado Santo é a grande metáfora da vida humana. É preciso nunca deixar de acreditar, nunca desistir de trabalhar. Não há obstáculos intransponíveis.
Deixo, a este propósito, um texto magnífico de Carlo Maria Martini: «Estamos no sábado do tempo, caminhando em direcção ao oitavo dia: entre o "já" e o "ainda não", devemos evitar absolutizar o hoje com atitudes de triunfalismo, ou, pelo contrário, de derrotismo.
Não podemos deter-nos na escuridão de Sexta-Feira Santa, numa espécie de "cristianismo sem redenção"; mas também não devemos apressar a plena revelação da vitória da Páscoa em nós, que se realizará na segunda vinda do Filho do Homem.
Somos convidados a viver como peregrinos na noite iluminada pela esperança da fé e acalentada pela autenticidade do amor».