Faz, hoje, cem anos que foi promulgada a célebre Lei da Separação entre a Igreja e o Estado.
A República marcava, assim, o seu espaço e definia um alvo bem preciso.
O ambiente era tudo menos pacífico.
Os bispos tiveram de sair das dioceses. As paróquias eram dirigidas por comissões nomeadas pelo poder local (as famosas cultuais). Os bens da Igreja foram expropriados. Roma reagiu e a tensão cresceu.
Houve, em tudo isto, muita dor, muita divisão, mas também muita purificação.
A reacção, de um lado e de outro, não foi uniforme.
Apesar da crispação, a prática religiosa manteve-se e, em alguns sectores, até se intensificou.
Houve, nos últimos dias, quem aventasse a hipótese de um pedido de perdão por parte do Estado.
Creio que o mais importante é o clima de pacificação. Hoje, há novos problemas que precisam de ser equacionados.
O pedido de perdão pressupõe uma vontade de mudança. Ora, a mudança, em relação a 1910, está consubstanciada.
Mais difícil é pedir perdão por aquilo que ainda está em curso.
A própria Igreja já pediu perdão pela Inquisição, pelas Cruzadas. Foi há cerca de dez anos. Os factos em apreço sucederam há séculos.
Mais vale tarde que nunca. Desejável é não chegar tão tarde à avaliação dos acontecimentos.
Basta que haja mais Evangelho e menos apego ao poder.