Uma das figuras mais sinistras da história é, sem dúvida, Judas Iscariotes.
Judas é, aliás, um nome que depressa se transformou num adjectivo. Qualquer traidor é apodado como sendo um judas!
Não faltou, porém, quem, ao longo dos tempos, tentasse reabilitá-lo. Existe mesmo um Evangelho de Judas e há quem faça dele o verdadeiro discípulo predilecto.
O ponto de partida é que Jesus veio para dar a vida pela humanidade sacrificando-Se na Cruz. Daí a tendência para apontar Judas como uma espécie de colaborador do plano de Deus!
É intrigante verificar que o Evangelho, quando fala do acto de Judas, usa não o verbo trair (prodotês), mas entregar (paradidonai). Trata-se do mesmo verbo atribuído a Jesus e ao Pai!
Tudo neste homem é obscuro. O seu apelido, Iscariotes, evocará a sua proveniência: provavelmente uma aldeia chamada Kerioth. Não se sabe, porém, onde fica.
Talvez Iscariotes tenha que ver com sicarius, que indica um grupo terrorista que, no século I, actuava na Palestina.
Não há certezas, contudo. O Evangelho diz que ele se arrependeu e se terá enforcado.
A participação no plano de Deus não retira peso à responsabilidade pessoal de cada um. Mas tudo toca o mistério.
O mistério de Judas é sumptuosamente eloquente. Ele mostra que a infidelidade pode morar muito perto.
O inesperado é uma constante que nunca pode ser posta de lado.