A nossa vida acaba por ser a história dos nossos encontros.
A proximidade é um laço que não conhece fronteiras.
Há instantes, foi-me oferecido um livro cujo autor se apresentava como irmão ateu.
António Oliveira Bento tinha estado comigo há pouco mais de um ano.
As Reflexões ao espelho, que editou, sinalizam uma inquietação muito viva e uma abertura muito grande.
Como se pode ver ao percorrer estas páginas, Deus não está longe de ninguém. Nem dos ateus.
Há, de resto, um ateísmo que é muito mais que negação. Trata-se de um apelo e de um estímulo à purificação.
O ateu acaba por ser o irmão gémeo do crente.
Nasce no mesmo mundo. Caminha na mesma vida. Não descola da mesma inquietação. E olha no mesmo sentido.
As perguntas que levanta enriquecem as respostas que espera.
Mesmo quando é percebido como ausência, Deus não deixa de estar presente.
Um ateu também se relaciona com Deus. A via adversativa não deixa de ser uma via de relação e pode enriquecer até o encontro.
Já Johannes Baptist Metz alertava, em 1965, que a relação com o ateísmo faz parte da realização do crente como crente.
Para um crente, Deus está em toda a parte. Gandhi assegurava que Deus estava na humanidade. Na humanidade de todos os homens. Incluindo na dos irmãos ateus.
Alguns objectarão: irmãos, mas ateus.
Prefiro replicar: ateus, mas irmãos.
Sempre!