Já sabemos que a liberdade, sendo um direito sagrado, não é um absoluto. Será sempre relativa às pessoas que coexistem. A liberdade de uns não pode litigar com a liberdade de outros.
A França pode não apreciar o uso da burqa por parte de algumas mulheres islâmicas. Não faz parte da sua tradição. Só que os tempos mudam e o mundo tornou-se uma aldeia. Se, no passado, encontrámos europeus na África e na América, é natural que, actualmente, encontremos africanos, americamos e asiáticos na Europa.
Convém não esquecer que, no passado, os europeus não se coibiram de impor muitos dos seus hábitos lá fora. Como não aceitar que os outros vivam de acordo com os seus hábitos cá dentro? Desde que não os imponham, tudo se circunscreverá a uma questão de pluralidade.
Cada terra deixou de ser um quadro monocolor. Assemelha-se, cada vez mais, a um mosaico multicolor. Em cada terra acaba por estar toda a terra.
O poder tem obrigação de entender o zeigeist, o espírito do tempo. Arranjar problemas desnecessários não é um bom sintoma.
Até Timothy Gartom Ash, que não é propriamente um religioso, defende que «os homens e as mulheres devem poder fazer, dizer, escrever, desenhar e vestir o que quiserem, sempre que isso não cause danos aos outros».
Para quê ver um desafio onde, à partida, nada mais existe que afirmação de identidade?