Quando mais precisamos de aterrar na realidade, eis que nos oferecem (uma vez mais) um banho de encenação.
Quando não fala o chefe, fala-se do chefe.
Desde há uns anos, é sempre assim: minguam as ideias, sobram os aplausos.
É tudo muito oco, mas as massas alimentam-se à volta do chefe.
O «one man show», apesar de tudo, é um espectáculo muito apreciado. Cada vez se ouve menos polifonia. À nossa frente apenas a sinfonia de uma nota só: a do chefe!
Os tempos não são fáceis.
O tempo político gira à volta das eleições.
O tempo real precisa de quem se concentre nos problemas.
É aqui que nasce a contradição: para se ganhar eleições, não se pode falar das dificuldades.
Quando é que o triunfo voltará a surgir a quem prometa «sangue, suor e lágrimas»?
A verdade é admirada, mas parece estar sempre ao lado dos vencidos.
Já estamos em pré-campanha. Os vendedores de ilusões já estão em campo.
Dia 6 de Junho, voltarão a falar-nos da realidade.
Até lá, só uns espamos de verdade.
Gostaria que tudo fosse diferente. Mas, à esquerda, à direita e ao centro, tudo parece montado para continuar igual.
Entre comícios, tempos de antena, visitas aos lugares mais remotos e bandeirinhas, vamos coleccionar promessas de paraíso. Dia 6, lá nos dirão que, afinal, o abismo está mesmo aos nossos pés.
O que vale é que estamos há séculos nesta situação. E ainda não sucumbimos.
Somos uns sobreviventes.