Cada fase da vida tem as suas perguntas próprias.
Há as perguntas do início da vida, as perguntas do meio da vida e as perguntas do fim da vida.
Tudo isto é dissecado no mais recente livro de Tolentino de Mendonça que, a propósito, evoca Dante: «A meio do caminho desta vida me vi perdido numa selva escura».
É um conjunto de textos que depõem a favor da procura incessante do divino a partir do fundo da alma.
O elogio do silêncio na relação com Deus entronca na defesa da verdade como construção sobretudo interior. Traz Kierkegaard à colação para dizer que «a verdade não é algo externo, que descobrimos como proposições frias e impessoais, mas algo que experimentamos no nosso interior, de maneira pessoal».
No meio do caminho, «olhamos e a vida tornou-se uma floresta. As evidências parecem-nos menos frequentes e acessíveis». Para o poeta, «a sensação que nos sobrevém é a de uma desorientação ou de um certo adormecimento interior».
Apesar dos recursos da linguagem, chega um momento em que «fazemos a experiência da impossibilidade de nos dizermos, ou de nos dizermos totalmente».
Mais do que viajantes, na vida somos peregrinos com um rumo sempre aberto ainda que nem sempre pareça disponível.
Se nem sempre nos dizemos quando falamos, resta dizermo-nos quando peregrinamos.
O nosso caminho é a nossa voz.