Muito estranho (e sobretudo deveras perigoso) o que está a acontecer em Portugal.
Entre o mau e o péssimo, a opção parece assustadoramente clara. Há quem, em nosso nome, nos esteja a guiar para as imediações faiscantes do abismo.
O panorama já não era bom. A cada dia que passa, parece piorar. Basta verificar a descida de Portugal nas agências de notação financeira.
A teimosia de uns e a pressa de outros prestaram um serviço inqualificável à comunidade. Ainda por cima, era tudo tão previsível e, por isso, tão evitável.
Descodificando um pouco a questão do PEC, não se percebe que a sua discussão nos tenha trazido para aqui.
A Europa (ou quem, nela, dispõe do dinheiro) impôs determinadas condições. Seria necessário cumprir as metas do défice. Isto só se consegue diminuindo a despesa e aumentando a receita. Uma vez que a economia teima em não crescer, a alternativa é aumentar os impostos ou, então, congelar e diminuir os salários e as prestações sociais.
Basicamente, era esta a proposta do Governo.
Não dispondo, porém, de maioria e achando que cumprir as metas do défice é fundamental, porque é que não se mostrou aberto a alternativas?
Do chumbo do PEC não decorre, necessariamente, a demissão do Governo. Esta é uma opção política. Respeitável, mas bastante temerária.
E a oposição, não aquiescendo às medidas do PEC, porque é que não propôs outras? Porque é que recusou toda e qualquer negociação?
O que é mais aflitivo é que o líder do maior partido da oposição já veio avisar que, em caso de formar Governo, não exclui a possibilidade de aumentar impostos.
Isto significa que, na substância, a situação não se alterará muito.
Lá fora, como se tem visto, é muito difícil perceber a nossa situação, a ligeireza com que somos dirigidos e uma certa irresponsabilidade que subjaz a determinadas atitudes.
Que adianta dizer que somos soberanos se precisamos dos outros para sobreviver?
Aliás, há um aspecto que deveria ser equacionado. Os trabalhadores portugueses são apreciados em todo o mundo. A sua capacidade é exaltada. E a sua produtividade é reconhecida. Isso não explicará que o problema reside, em grande parte, na forma como somos governados em Portugal?
Espanta também que os olhos já estejam focados no futuro, isto é, nas eleições. Olhar para o futuro é importante. Mas o melhor tributo que se pode oferecer ao futuro é a nossa responsabilidade no presente.
O caminho que estamos a trilhar é ínvio, quase intransitável.
Fala-se do país, mas só pensa no poder.