A evocação de D. Óscar Romero, enquanto apóstolo da liberdade e paladino da libertação dos oprimidos, reconduz-nos, de novo, ao interessante livro de Ratzinger/Bento XVI sobre Jesus.
E se o Papa se mostra (admiravelmente) prolixo no que toca à verdade, é praticamente omisso em relação à liberdade.
Ao tratar da morte de Cristo, segue, como seria de esperar, a doutrina tradicional da reconciliação e da expiação.
E não há dúvida de que encontramos, nestes dois tópicos, uma preciosa síntese do acontecimento da Cruz.
Só que era importante, como fez a Teologia no século XX, extrair todas as ilações do que Cristo nos ofereceu na Sua vida e na Sua morte.
Aliás, logo nos primeiros tempos, a paixão pela liberdade estava deveras entranhada no pensamento teológico.
S. Paulo verteu: «Foi para a verdadeira liberdade que Cristo nos libertou» (Gál 5, 1).
Em conformidade com tal princípio, o mesmo S. Paulo recomenda a Filémon que trate o escravo Onésimo como um irmão.
Se retirássemos o vocabulário ligado à liberdade (eleuthería, eleutherós), ficaríamos, como advertiu alguém, com menos de metade da Bíblia.
A redenção é englobante e, sem dúvida, inclui a liberdade e a libertação.
A redenção é mais que a libertação das opressões políticas, sociais e económicas. Mas esta libertação também está inserida na redenção. Daí que seja importante referi-la.
João Paulo II disse que uma correcta Teologia da Libertação é não só oportuna como necessária.
Jesus é, acima de tudo, acontecimento de liberdade e força de libertação.
Os oprimidos deste mundo e os explorados desta vida sabem que têm n'Ele um aliado.