Não são apenas os gestos que ferem. Há palavras que também magoam.
Mais. Por vezes, é de palavras agressivas que se passa a agressões.
George Orwell advertiu que a degradação das sociedades começa, não raramente, pelas palavras.
Daí a imploração do poeta (no caso, Tolentino de Mendonça): «Não uses palavras; qualquer palavra que me digas há-de doer pelo menos mil anos»!
O panorama que a actualidade nos oferece resume-se a uma ensurdecedora trovoada de palavras.
Façamos um breve conspecto pelo que a nossa memória alcança a partir de jornais, de blogs, da televisão ou simplesmente da rua. Encontramos palavras que sirvam para unir, para encorajar, para abrir janelas de esperança?
Algumas encontraremos, sem dúvida.
Mas o mais provável é que acumulemos palavras que sabem a fel, que denotam arrogância ou que encerram violência.
Parece que, no hebraico, a raiz dbr tanto dá para palavra como para peste.
Nada mais pertinente, convenhamos.
É urgente reabilitar a palavra. É fundamental reconduzi-la à sua fonte.
Se antes de falar, acharmos que o que vai ser dito vai ferir ou magoar, façamos um compasso de espero.
Antes a sobriedade do silêncio do que a tórrida tempestade de certas palavras.