As palavras têm uma origem, percorrem um caminho e constroem uma história.
Sucede que, não raramente e como notou Ludwig Wittgenstein, o seu significado é tomado não a partir da sua génese, mas a partir do uso que lhe é dado ao longo do tempo.
Católico tornou-se indicador de parcela. Designa uma parte dos crentes, dos cristãos.
Sucede que, etimologicamente, católico evoca não uma parte mas o todo.
O primeiro a empregar este conceito terá sido Aristóteles, na sua célebre Metafísica.
Aí defende que a verdade é católica. Está na totalidade. Hegel e von Balthasar repetiram este ensinamento nas suas obras.
Decompondo a palavra, encontraremos kath olon, isto é, segundo o todo.
A vida portuguesa vive um momento em que precisava muito de assentar nesta perspectiva.
A totalidade está a ser dirigida por uma parte. Esta parte diz que a sua perspectiva é inegociável.
A condução do país assemelha-se a uma litigância judicial. Várias partes em confronto. Apenas uma executa o seu programa.
Isto é empobrecedor. A parte devia ser iluminada pelo todo. Não devia ser o todo a ser condicionado pelas partes.
A verdade é integradora e, por isso, conciliadora e pacificante.
Muita falta faz a competência. Mas mais falta faz ainda a sabedoria. Daí o acerto da (inquietante) pergunta de T. S. Eliot: «Onde está a sabedoria que nós perdemos no conhecimento? Onde está o conhecimento que nós perdemos na informação?».
Não nos fixemos apenas no que temos conquistado. Pensemos sobretudo no que temos perdido. E procuremos reencontrá-lo.
É no todo (e em todos) que a verdade nos visita. Insistir nos pontos de vista parciais, quando em causa está a totalidade, é perder tempo e desperdiçar oportunidades.