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Sábado, 12 de Março de 2011

O saldo desta semana lusa é que há um esgotamento crescente do modelo que nos tem dirigido.

 

O Presidente disse o que disse no Parlamento. O Povo mostrou o que mostrou na rua.

 

A país está saturado e, pior, sente-se abandonado.

 

E o poder, em resposta, serve-lhe não só a continuidade, mas também o agravamento da situação.

 

As manifestações que, hoje, foram realizadas deixam entrever uma mancha de desespero muito grande.

 

As pessoas estão cansadas do poder, mas também não se sentem estimuladas pela oposição.

 

É estranho que, enquanto representantes do país, os políticos não mostrem a preocupação devida na regeneração das ideias, dos projectos e das práticas.

 

A classe política parece bloqueada no compasso de espera que criou.

 

O Presidente alertou para os limites dos sacrifícios. O povo mostrou que já não suporta mais.

 

O Presidente apelou a um sobressalto cívico. O povo acaba de mostrar que está mais que sobressaltado.

 

E agora? Irá o centro da vida política deslocar-se do Parlamento para a rua?

 

Muita gente está a pensar em eleições. O problema é que, com ou sem eleições, a acção política não dá sinais de mudar.

 

E grave é pressentir que, mesmo com mudança, tudo pode continuar na mesma.

 

Daí talvez que ninguém queira dar o passo. O Presidente não demite o Governo. O Governo não se demite. A Oposição não derruba o Governo.

 

A rua pode tornar-se mesmo o palco que resta. Para já, é a voz do desespero. Pode ser que se transforme em gérmen de esperança.

 

Sê-lo-á se houver quem escute devidamente o que está a acontecer.

 

Não se pode ignorar o que se vê, ouve e lê.

 

Há que ter cuidado com a tentação de subestimar os protestos. Há comentadores que parecem meros áulicos de um sistema injusto.

 

Parecem mover-se bem nas águas pantanosas. E voltam-se contra quem sofre e, claro, protesta. E não falta até quem despreze.

 

Chamar deolindos a centenas de milhar de cidadãos é sinal de sobranceria. Mas pode ser também sintoma de miopia, para não dizer de cegueira.

 

Não querer ver o que se passa à nossa frente é perigoso.

 

É claro que este fenómeno não é homogéneo, mas é inquestionável que ele encerra uma profundidade muito forte.

 

De resto, todo o inconformismo deve ser lido com atenção.

 

As pessoas que se manifestam não querem que as sustentem. Querem que lhes dêem uma oportunidade de contribuir para o desenvolvimento do país.

 

Com Bernhard Haering aprendi que o protesto pode ser um serviço, um ministério.

 

Ainda bem que o povo está desperto, alerta.

 

Há muita gente a passar mal. A fome é uma realidade presente e ameaça ser um vendaval num futuro muito próximo.

 

E, atenção, há muitos pobres que já nem à rua descem.

 

Pensemos nas pessoas. Deixemos os egoísmos partidários de lado.

 

Esta hora é grave. Precisamos de dirigentes à altura dos tempos.

 

Tê-los-emos?

publicado por Theosfera às 21:32

De António a 13 de Março de 2011 às 13:27
Portugal bateu no fundo e Brecht permanece actual: " do rio que tudo arrasta dizem que é violento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem"...

De Theosfera a 13 de Março de 2011 às 16:08
Tem razão, bom Amigo. Será que daqui emerge uma nova forma de estar na política? será que estas pessoas vão ingressar em partidos ou fazer novos partidos? Ou vai tudo desaguar na inércia?

De Evágrio Pôntico a 13 de Março de 2011 às 19:12
Dirigentes à altura, é evidente que não temos, Sr. Padre João, ou, melhor dizendo, eles não se encontram - ou não se podem manifestar... - nos partidos políticos, que manietam as opiniões individuais e não deixam medrar qualquer veleidade de expressão livre, pois tudo é submetido à táctica partidária, cuja finalidade não é servir o País, mas, antes, os nefandos interesses do grupo.

E como o sistema constitucional está organizado de forma a que, ninguém, fora das camarilhas partidárias, possa levantar a voz e propor seja o que for em prol do País … já se vê que, enquanto o sistema não for totalmente erradicado (simples mudanças não chegariam, pois os partidos haveriam de controlar sempre tudo…) continuaremos todos a ser inexoravelmente conduzidos pelas bestas do costume…

Tudo isto é fruto de um liberalismo histórico que começou a ser implantado há séculos, e que vê na acumulação do dinheiro e na satisfação dos prazeres materiais o único escopo da existência humana…








De Theosfera a 13 de Março de 2011 às 19:21
Tem toda a razão, bom Amigo, nesta sua análise. Muita paz no Senhor. Abraço amigo.

De Maria da Paz a 14 de Março de 2011 às 00:10


«Precisamos de dirigentes à altura dos tempos.
Tê-los-emos?»

NÃO! Desgraçadamente, NÃO!

E precisamos de um sentido para a vida, precisamos de formação humana, cívica, moral ética: das crianças aos velhos. Todos.
Não é isto uma visão "lírica": é uma necessidade verdadeira, imperiosa e premente de sobrevivência, como humanos que somos.

E precisamos de uma nova dinâmica nos meios de produção que gerem riqueza e postos de trabalho, para que consigamos atingir níveis de vida com dignidade e com Justiça.

De outro modo, continuamos num "beco sem saída", com um horizonte de expectativas de cada vez mais miséria e sofrimento; um horizote de expectativas que fere, de modo letal, a dignidade de cada cidadão, de todos os cidadãos - com uma especial e pesada gravidade para os mais pobres.
Maria da Paz



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