O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Terça-feira, 08 de Março de 2011

Escusado é negar aquilo que acontece. E perigoso é subestimar o eco daquilo que ocorre.

 

Há uma vaga de descontentamento que percorre praticamente todas as camadas sociais e todos os estratos profissionais.

 

Dirão que, apesar de tudo, hoje vive-se melhor que outrora. É possível que se viva melhor. Mas as pessoas sentem-se pior.

 

Há uma mudança simbólica a que importa prestar atenção.

 

O computador corresponde à enxada de outros tempos.

 

Tal como, antigamente, havia várias enxadas em cada casa, actualmente existem diversos computadores em cada apartamento.

 

A diferença é a seguinte.

 

Outrora, mesmo em épocas de crise, recorria-se à enxada e alguma coisa vinha em troca. Podia não dar para prosperar, mas sempre dava para sobreviver.

 

Hoje em dia, manuseia-se o computador e nem sempre sai alguma coisa em troca.

 

É que, enquanto outrora, havia uns terrenos à porta de casa, hoje é difícil encontrar um emprego perto ou longe da habitação.

 

E sem um emprego, de pouco vale a competência.

 

Há quem recuse trabalhos. A qualificação gera expectativas. Não poder realizá-las facilmente conduz a toda a sorte de frustrações.

 

É provável que os protestos de sábado incluam exigências puramentes retóricas, irrealistas.

 

Defender a demissão de toda a classe política parece uma tonteria. Os políticos podem não ser os ideais, mas são necessários.

 

Trata-se, porém, de um sinal. O que se quer não será tanto que os políticos saiam, mas que os políticos mudem.

 

 

Estamos, portanto, diante de um apelo à regeneração da classe política. Sibilinamente, a mensagem não é tanto que saiam estes políticos. É que apareçam outros. Outros políticos. E sobretudo outras formas de fazer política.

 

Julgo que as pessoas compreendem a necessidade de sacrifícios. O que não entendem tão bem é que os sacrifícios pendam sempre para o mesmo lado, para o lado do povo.

 

As pessoas não digerem, por exemplo, que, em tempo de recessão, os gestores públicos tenham vencimentos de monstruosa brutalidade.

 

No fundo, aspira-se por justiça.

 

É claro que a eficácia não será muito grande. Não basta encher as ruas. Eficaz seria se as ruas não se esvaziassem durante muitos dias, até a situação mudar.

 

Só que não estamos na Tunísia nem no Egipto. E, apesar de tudo, vivemos numa democracia.  Embora doente, a democracia tem recursos como o diálogo, a negociação.

 

Parece-me, contudo, despropositado tratar, depreciativamente, estas pessoas como deolindos.

 

As canções dos Deolinda e dos Homens da Luta são ecos de algo que emerge de uma profundidade muito grande.

 

Há aqui sintomas de algo muito forte. Não é do pedestal que as coisas se resolvem.

 

Já houve canções que funcionaram como despertadores aglutinadores.

 

Os Homens da Luta podem não ter primores de erudição, mas não são tão destituídos de valor como alguns querem fazer crer.

 

O que aconteceu ontem, em Viseu, é mais um aviso. Há quem esteja alerta, desperto. Há quem não desista. Sobretudo quando o desespero litiga com a esperança.

publicado por Theosfera às 21:18

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