Nada fazia prever que fosse rei. Não era o primogénito e era gago profundo. Mas o irmão abdicou e tudo se alterou.
O Discurso do Rei, o filme mais premiado na noite dos óscares, não é (ou, no fundo, até será) uma história de amor. Mas é uma profunda história de persistência.
Esta não é uma ficção, mas o retrato de uma situação real.
Jorge VI não nasceu para reinar nem para falar. Mas como viver é ultrapassar-se, acabou por desempenhar os ofícios que mais lhe custavam exercer.
E a história assinala que não se saiu mal no seu desempenho.
Quando a rádio emergia como o grande meio de comunicação, as palavras reais eram escutadas com reverente respeito.
Jorge VI contou com a apoio da família e com a preciosa ajuda de Lionel Logan, um terapeuta com métodos pouco convencionais e que, no fundo, se resumiam a levar o monarca a acreditar em si mesmo.
O discurso em que anuncia a entrada da Inglaterra na guerra parece um concerto. O rei fala e o terapeuta orienta como se fosse um solista a estar à sua frente.
O rei não abandonou o seu povo na hora crítica e tributou-lhe um sentido aplauso.
O pai de Isabel II foi grato ao homem que o ajudou e sentiu-se sempre reconfortado na retaguarda familiar que sempre o acompanhou.
O segredo de Jorge VI não esteve na vitória sobre a gaguez, mas no acolhimento da gaguez.
A adversidade nem sempre pode ser superada. Será menos adversa se formos capazes de a integrar.
Há muito, mesmo muito, tempo que não via um filme. Não podia deixar de ver este.
Tocou-me a sobriedade digna que perpassa o ambiente e uma solenidade longe da afectação que percorre os cenários.
Vale a pena ver. E meditar.