Confesso que me impressionam o pessimismo iluminado e a contundência lúcida de Enrique Vila-Matas.
Há quem, em nome do pensamento positivo, evoque o que não se vê, o que provavelmente não existe.
O escritor catalão coloca o dedo numa ferida muito sensível.
Para ele, a literatura não passa por um bom momento. Discorre mesmo sobre o fim da literatura e dos verdadeiros escritores.
É claro que se escreve muito, hoje em dia.
Mas, no geral, a qualidade anda afastada.
Eu sei que isto fere muitos e desencanta alguns.
Mas partilho do essencial deste diagnóstico. «A situação actual da literatura não poderia ser mais lamentável».
Concretizando, «o pior defeito que os escritores têm é a vaidade. Há, no meio dos escritores, uma quantidade de gente de valor muito discutível, mas acham-se absurdamente importantes. Suspeito que há gente de maior nível intelectual noutros meios, como o científico. O convencimento e a vaidade deveriam ser banidos da literatura porque são sempre sentimentos estúpidos».
E vem uma regra de ouro: «Onde há humildade, há saber».
Sem humildade, não há procura. E a procura é a bússola que acede à sabedoria. Que é muito diferente da presunção.
Hoje tende a predominar o deslumbramento. O que aparece em muitos livros, jornais e sítios da net deixa muito a desejar. Não há muita qualidade. A rapidez de uma opinião quase ofusca, como denuncia José Manuel dos Santos, a lentidão de um pensamento.
É claro que há excepções. Mas, como sempre, servem apenas para confirmar a regra.
É a regra da mediania que prevalece. Que ocupa o espaço.
Até porque, volto a Vila-Matas, os leitores tornaram-se mais passivos que interessados.