Era a primeira coisa que fazia quando o jornal me chegava às mãos.
Antes mesmo do jornal, ia logo ao suplemento. Era como uma leitura antes da leitura.
A crónica de José Manuel dos Santos nunca me desiludia e sempre me interpelava.
Como ele diz, falava pouco do que se fala muito e falava muito do que se fala pouco. Mas, fosse como fosse, fazia-o de uma maneira única, elegante, sem ser afectada.
Pelos vistos, este ritual vai ser interrompido. Interrompido, pois antevejo que não vão faltar propostas para que o autor continue a conviver connosco, seus fiéis leitores.
A liberdade é isto, é a possbilidade de se tomarem as decisões mais inesperadas e as medidas mais descabidas.
Às vezes, é preciso refrescar uma equipa. Só que José Manuel dos Santos destaca-se por isso mesmo: por ter uma escrita refrescante.
Há muita gente a escrever bem. Ninguém, porém, escreve como ele em Portugal.
Também há muita gente convencida e presumida. E, como é óbvio, não falta quem instrumentalize a escrita, fazendo dela uma via de acesso ao poder.
Será que só há lugar para a escrita política e para o comentário desportivo? Ou será crime ter qualidade?
O texto de hoje falava de despedida. Não pensava que fosse a do próprio autor.
Os leitores de um jornal são muito diferentes dos sócios de um clube. Como reagiriam os adeptos do Real se Ronaldo fosse dispensado?
Mas há que aceitar a realidade. Mesmo que não se compreenda muito do que nela ocorre.
As manhãs de sábado não vão ser iguais. Pode ser que outras manhãs se tornem diferentes.