Confesso alguma perplexidade por determinadas reacções ante a situação que se desenha no mundo árabe.
Parece haver quem esteja mais preocupado agora, com a instauração da liberdade, do que com o que se passava antes, sob o domínio da ditadura e da opressão.
Há quem esteja dominado por um determinismo pouco menos que assolapado. E não falta mesmo quem decrete que as coisas só podem piorar.
É certo que pior é sempre possível. E, a propósito, não fica mal citar esta história deliciosa da antiguidade: «Em Siracusa, no tempo em que toda a gente desejava a morte de Dionísio, uma certa velhinha constantemente rezava para que não lhe acontecesse mal e ele vivesse mais tempo do que ela. Quando o tirano soube disto, perguntou-lhe a razão. E ela respondeu: “Quando eu era rapariga nós tínhamos um tirano muito cruel e eu desejava a sua morte. Quando ele foi morto, sucedeu-lhe um que era um pouco mais cruel que ele. Eu também estava ansiosa por ver o fim do seu domínio, mas então tivemos um terceiro tirano, ainda mais cruel. Este és tu. Por isso, se tu fores levado, um pior vai suceder-te no teu lugar».
Muitas vezes, é assim. Só que há um limite. E, segundo o povo, tão verdade é «não há bem que nunca acabe» como «não há mal que sempre dure».
Estaline foi pior que Lenine. A ditadura soviética parecia invencível. Mas já terminou.
A desordem em Portugal deu origem a um regime autoritário que aparentava ser interminável. Mas também foi vencido.
Nenhum regime é eterno. O importante é que se caminhe no sentido da justiça e da paz.
Uma vez mais, verto o meu humilde apelo. Deixemos, primeiro, falar os factos. Depois, então, falemos nós.