Há quem fique preocupado com a discordância, quando o mais preocupante é o afastamento.
A discordância dentro da Igreja não é, em si mesma, um problema. Até pode ser sinal de vitalidade. Mas há uma tremenda dificuldade, dentro da Igreja, em conviver com a discordância, com a sã pluralidade.
Problema grave é o afastamento. É o afastamento em relação a Jesus. E este afastamento pode envolver a própria Igreja, designadamente as suas estruturas.
Habitualmente, olhamos para as palavras, para os conceitos. Era bom que olhássemos também (e sobretudo) para os sinais, para o estilo de vida.
Confesso que despertou a minha atenção a perplexidade do poeta José Miguel Silva diante de uma certa iconografia: «Vês (nas igrejas) os santos vestidos como príncipes, quando toda a mensagem cristã defende o oposto».
Pois é. Jesus foi pobre. Convida a um estilo de vida pautado pela pobreza e sobriedade.
Muitas vezes, andamos empenhados em apontar a Sua doutrina. Esta é importante. Mas o decisivo é a Sua conduta. É viver como Ele viveu.
Não critico ninguém. Mas há coisas (como esta) que ferem um pouco.
É certo que Jesus está em toda a parte. Mas não era propriamente em palácios que costumava ser visto.
Não propugno um miserabilismo eclesiástico. Mas penso nas palavras de Paulo para quem Jesus nos enriqueceu com a Sua...pobreza!
Entre a ostentação e Jesus o casamento não é feliz, a relação não é estreita.
Se há dinheiro para investimentos destes (e 2 milhões e 400 mil euros é, sem dúvida, muito dinheiro), quem nega que seria mais bem aplicado na coroa da missão que é alimentar quem tem fome?
Porventura, isso até será feito. Mas poderia ser intensificado. E, além dos actos, os sinais são eloquentes.
A Igreja é chamada não apenas a estar junto dos pobres, mas também a fazer-se pobre.
E se, para um cristão, Jesus é a lei, então há qualquer coisa (muita coisa) que é preciso mudar. Com serenidade. Mas também com alguma urgência.