Urias é um dos personagens bíblicos cuja história constitui uma referência imorredoura para um determinado tipo de conduta.
Nunca falta quem mande os outros para o combate.
Por um imperativo de dever, eles vão. Eles dão-se e expõem-se a toda a sorte de perigos.
Vão não para defender algo seu. Vão para dar a vida, se for esse o caso, por aqueles que os mandam para o combate, os quais, por sinal, ficam em casa.
Estes, como se não bastasse, apropriam-se do que pertence ao pobre combatente.
Mas a perfídia não fica por aqui. A ordem é para que Urias vá para a frente do combate. Para triunfar? Não. Para morrer.
É com alívio que os chefes tomam conhecimento do desfecho. Mas também não há notícia de que os seus próximos o tenham chorado. Urias era (é?) mesmo para descartar, para eliminar, para esquecer.
Os grandes deste mundo não descansam enquanto não eliminarem os pobres urias desta vida.