Há qualquer coisa que fomos perdendo na Europa e que estamos a reencontrar na África.
Fomos perdendo, aqui, o rumo da vida, o horizonte da esperança, a bússola do sentido.
Uma depressão endémica abateu-se sobre o ocidente.
Andamos agastados uns com os outros e manifestamo-nos uns contra os outros.
Só nos levantamos quando um direito é perdido, quando um hábito é alterado.
Tudo isto sabe mais a grito de desespero do que a eco de determinação.
De há um tempo para cá, todos os levantamentos têm resultado conhecido: é o que os poderes ditam.
Assim foi com as propinas. Assim foi com o porte pago. Assim foi com as portagens. Assim é com o iva. Assim é com os despedimentos.
Gritamos, mas sabemos, à partida, que ninguém nos ouve. O jogo está decidido antecipadamente.
É por isso que a África reaparece como o reencontro com aquilo que fomos perdendo.
Eis todo um povo que se levanta, que caminha, que não desiste.
Na Tunísia, já fez cair o presidente. No Egipto, é o presidente que treme.
Já houve mortes. Ainda haverá mais mártires.
Mas o povo não desiste. E continua a caminhar. Sem cálculo. Com energia e muita esperança.