Hoje em dia, abundam técnicos e especialistas. Mas não restam muitos sábios. Em tempo de poupança, ditada pela crise, é pecaminoso desperdiçá-los.
Esta noite pudemos ouvir, por poucos minutos é certo, um dos poucos sábios que nos resta: António Barreto.
À competência e argúcia acrescenta lucidez e moderação.
Toma posições sem ser sectário.
Apreende a realidade e transmite o seu olhar sobre ela sem disfarces.
Sublinhou o óbvio esta noite: a campanha eleitoral foi pobre, mas não vale a pena estar sempre a insistir no mesmo.
Os próximos três ou quatro meses tornar-se-ão esclarecedores: ou há entendimento entre presidente da república e primeiro-ministro ou temos mais crise.
Era bom que os principais partidos se entendessem em nome do país e que não se digladiassem em prejuízo do país.
À testa dos nossos problemas colocou a justiça. Que, assinalou, funciona pior nos grandes centros do que nas pequenas localidades.
A educação também precisa de ser reformulada. Ao governo cabem duas tarefas fundamentais: definir um programa curricular comum e manter uma actividade inspectiva. O resto cabe às comunidades e às suas forças vivas. É preciso apostar - de vez! - na sociedade civil.
Pressente-se muito desencanto com o presente e desenha-se alguma apreensão quanto ao futuro.
Já há quem (Henrique Raposo e Francisco José Viegas, por exemplo) tenha lançado o seu nome como possível candidato às presidenciais de 2016.
Enquanto sociólogo, António Barreto é um profundo conhecedor da nossa identidade e das suas idiossincrasias mais entranhadas.
Pressinto, porém, que, fiel a si mesmo, optará por permanecer como uma reserva. Reserva cívica e reserva moral de um país que desperdiça o que há de melhor.
Na vida, há sempre uma reserva que nunca se usa, que nunca se gasta. Recorremos a ela em horas de aperto e reencaminhamo-la para o seu lugar, para a reserva.
Seja como for, o pensamento como que rejuvenesce ao ouvir sábios como António Barreto e outros. Que não são muitos.