O Evangelho apresenta-nos Jesus preocupado com as pessoas.
Tem para elas palavras de esperança e tem junto delas atitudes de alento.
Não é em vão que a mesma palavra (sozo) significa curar e salvar.
A actividade taumatúrgica de Jesus é uma realidade e funciona, acima de tudo, como um sinal. Ele é o grande libertador e o maior curador da enfermidade humana.
Jesus oferece uma poderosa terapia diante do egoísmo que desfigura a existência e macula a convivência.
O Seu amor, como sagazmente notara Agostinho da Silva, é desegoízador.
Só por duas vezes, de acordo com os Evangelhos, fala da instituição que haveria de prosseguir a Sua obra.
A Igreja é importante, mas não um absoluto nem se constitui como uma meta.
O essencial é o que aparece designado como Evangelho do Reino.
Reino, como é óbvio, nada tem que ver com uma magnitude política. Trata-se de uma grandeza de ordem diversa. É a presença de Deus no meio das pessoas.
Daí o apelo à mudança e o convite a segui-Lo.
A Igreja, como assinala Paulo, existe para assegurar a presença de Cristo no tempo.
Não pode, por isso, desagregar-Se de Cristo.
Cristo não quis separar-Se da Igreja. A Igreja não pode separar-se de Cristo.
Só que há quem veja distância: não de Cristo em relação à Igreja, mas da Igreja em relação a Cristo.
É neste sentido que não é muito curial apontar à sociedade a responsabilidade pela crise da Igreja.
A crise da Igreja (vale a pena ler o texto de José António Saraiva na Tabu) vem de dentro para fora e de cima para baixo.
O caminho há-de ser, pois, acolher o que nos chega de fora para dentro e de baixo para cima.
Não foi por acaso que Jesus enviou os discípulos para fora, advertindo que o Reino é como uma semente lançada à terra.
É, portanto, por baixo que se deve começar.
É claro que a linguagem é sempre um instrumento inapropriado. É que, relativamente a Cristo, não há fora, nem baixo. Ele está dentro de tudo e de todos. E todos estão dentro d'Ele.
Perceber isto é fundamental.