O espanto foi geral quando, na planura florescente dos seus catorze anos, confessou: o meu maior sonho é não ser famoso.
Ainda houve quem pensasse que de um engano se tratasse.
Mas aquela confissão trazia uma mescla de desencanto e maturidade.
O que vem do mundo dos famosos tresanda a banalidade. É tudo oco, fingido, artificial, fabricado.
Não há ali espessura, densidade, autenticidade. Sobra muita intriga, inveja e uma miríade de imagens que fazem as delicias dos consumidores mas que deixam um ar de vazio na alma.
O mundo dos famosos assemelha-se a um labirinto do qual não se consegue sair. Muitas vezes, o fim é a tragédia.
Muitos famosos exibem um sorriso que esconde um turbilhão de dores.
Por isso é que Torga testemunhava que a sua fome não era de fama, mas de eternidade.
Não ser famoso é uma terapia. É uma forma de estar na vida sem aparecer no palco.
Porque o palco só faz desfilar máscaras, aparências.
O essencial é o que fica depois de tudo passar. E nada há que passe (e se esfume) tão depressa como a fama...