Eis o horizonte da fé: projectar uma luz sobre aquela que parece ser a situação mais tenebrosa da existência. Essa luz não leva a colorir ou a mitigar o peso da morte. É que ela própria foi assumida por Deus em Jesus Cristo. Só que, ao ser assumida, começou também a ser definitivamente superada.
À morte cabe uma palavra. E não é, reconhecidamente, uma palavra qualquer. Que possa ser menosprezada. Não cabe, contudo, à morte a última palavra. Essa fica reservada para a vida.
Tal é a mensagem fundamental da Ressurreição de Jesus Cristo: a morte não é o fim. Ou, se preferirmos, não é o fim último.
Isto significa, muito concretamente, que o homem não foi criado para o abismo da morte, mas para a plenitude da vida. A qual, por sua vez, não se alcança sem a experiência da morte.
Do mesmo modo que não houve Ressurreição sem Cruz, também não há hoje vida que não implique morte. Mas, por outro lado, da mesma forma que não houve Cruz sem Ressurreição, também não há morte que não possa conduzir à vida.
Acima de tudo, porque o nosso Deus é um Deus da vida. De tal modo que até está presente na nossa morte. Não para nos enterrar no vazio. Mas, pelo contrário, para nos fazer ressurgir plenamente vivos.
Por conseguinte e por muito estranho que pareça, é quando nos abeiramos da morte que nos aproximamos (verdadeiramente) da vida. Como escreveu Hoffmannstahl, «agora que morro, começo a aperceber-me de que vivo».