Creio que foi Mário Cuomo (antigo governador de Nova Iorque) que disse que as campanhas eleitorais são feitas em verso e a governação em prosa.
Olhando para o cenário das eleições presidenciais, dir-se-ia, com pesar, que já nem as campanhas são feitas em verso.
É como se a pobreza, que afecta tantos portugueses, contaminasse o debate. Tão pobre tem sido, de facto, a discussão, inclusive (ou sobretudo) quando o tema é...a pobreza.
É certo que os tempos já não correm de feição para a agilidade do pensamento e para o manuseio da palavra.
Ainda assim, podia haver um esforço no sentido de requalificar a intervenção política. E nem sequer me reporto à retórica, coisa secundária. Refiro-me, antes, ao porte, à substância, às propostas.
Com todo o respeito, subsiste a impressão de que os candidatos estão muito cheios de si e bastante vazios de ideias.
Parece que a estratégia se resume à agressividade, à desmontagem do adversário e ao auto-elogio fácil. Parte-se do princípio de que é isso que rende.
Falta um debate mais pró-activo, com mais propostas e com mais elevação e serenidade.
Confesso que de Cavaco Silva esperava mais. De Manuel Alegre aguardava melhor. E de Fernando Nobre desejava diferente.
Regresso a Cuomo. Se já nem a campanha é feita em verso (apesar de haver um grande poeta), que prosa teremos no exercício do poder?
Que, ao menos, os dias que distam da eleição possam compensar, em substância, o que até agora se desperdiçou em pura propaganda.
Acima de tudo, que prevaleça a paz.