Não é preciso ser muito versado em semântica para perceber que obediência vem de escuta. Na sua raiz está o verbo audire, ouvir.
Ela ocorre, portanto, no plano da relação pessoal. Pressupõe sempre uma iniciativa e anela por um acolhimento. Parte de uma proposta que espera por uma resposta.
A obediência não está, pois, do lado da imposição nem da correspondente submissão. Ela não dispensa a mediação da consciência.
Se a obediência implicasse a anulação da vontade, como poderia ser humana? Tratar-se-ia de um acto nulo.
Isto não contende, obviamente, com a generosidade que se dispõe a aceitar o que é proposto.
A obediência, assim entendida, não menoriza nem infantiliza. Pelo contrário, ajuda a crescer.
É preciso reconhecer que, muitas vezes, se apelou à humildade como pretexto para encobrir muita desumanidade.
Nunca percamos de vista, com efeito, que Deus não fala apenas pela consciência de uns. Fala na consciência de todo o ser humano.
É bom não esquecer que, como dizia Joseph Ratzinger em 1968, «acima del Papa está a própria consciência, à qual há que obedecer antes de mais, ainda que seja contra o que diz a autoridade eclesiástica».
Confesso que até a mim me surpreendem estas palavras do actual Papa, que acrescenta: «O que falta na Igreja não são panegiristas da ordem establecida, mas homens cuja humildade e obediência não sejam menores que a sua paixão pela verdade, e que amem a Igreja mais que a comodidade da sua própria carreira».
O interpelante estudo que vem hoje no El País deve levar-nos a pensar na interlocução que conseguimos entre os membros do Povo de Deus.
Jesus foi sempre humilde e nunca pressionou a consciência de ninguém. Porque humilde, não humilhava. Respeitou a identidade das pessoas.
Com serenidade, creio que, um dia, nos aproximaremos da conduta do Mestre dos mestres.