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Segunda-feira, 03 de Janeiro de 2011

1. Está ainda o ano a dar os seus primeiros (e tímidos) passos e já não falta quem prenuncie tempestade. 

  

Não há praticamente político nem comentador que, qual Cassandra dos tempos modernos, não nos prepare para o agravamento da crise.

 

Não espanta, pois, que o ambiente seja soturno e que se propenda a ver problemas onde até podem estar a germinar possibilidades.

 

Ter noção das dificuldades não é, em si, dramático. O importante é que não fiquemos desmobilizados ou alçados pelo desespero.

 

Não sei se por influência do ambiente político e do clima económico e social, começam a aparecer vozes a alertar também para a crise da Igreja.

 

Nos últimos dias, houve até quem a descrevesse como sendo uma das maiores crises dos últimos séculos.

 

 

2. Há uma tendência crescente, em muitas pessoas, para desligar a relação com Deus e a relação com a Igreja.

 

Longe, muito longe, aparenta estar, por conseguinte, a afirmação de S. Cipriano, segundo a qual «ninguém pode ter a Deus por pai se não tiver a Igreja por mãe».

 

O certo é que não falta quem sinta Deus como pai e, apesar disso, não consiga sentir a Igreja como mãe.

 

Quer queiramos quer não, existe um número cada vez maior de seres humanos que não prescinde de Deus e que, ao mesmo tempo, se afasta da Igreja.

 

Neste contexto, não partilho do diagnóstico dos que dizem que a sociedade está a distanciar-se de Deus.

 

Ainda recentemente, por alturas do Natal, se voltaram a ouvir vozes eclesiásticas a increpar uma laicidade que obscurece o sagrado. Com todo o respeito, não me parece que seja assim.

 

É óbvio que já não estamos em tempos de cristandade. Mas também já superamos a época secularista, que alguns (apressadamente) qualificaram como, irremediavelmente, pós-religiosa.

 

Poderemos é estar no limiar de uma era que poderão denominar pós-eclesiástica. No entanto, julgo ser mais adequado acolhê-la como sendo uma era de apelo à refundação da própria Igreja.

 

 

3. Em si mesma, a laicidade não impede ninguém de cultivar uma relação com Deus.

 

Pelo contrário e a avaliar por certas reacções a determinadas intervenções, o que muitos lastimam é que a Igreja não se mostre mais próxima de Jesus.

 

É claro que a sobrevivência da Igreja não está em causa. Mas pode estar em jogo a sua relevância.

 

As pessoas são livres de chegar a Deus pelas vias que consideram mais convenientes. O que nos deve fazer meditar é haver muitos que acham que a Igreja não é uma dessas vias.

 

Isto não deve conduzir-nos a uma trincheira nem tão-pouco nos há-de levar a um olhar pessimista e zangado sobre o mundo.

 

O mais sensato é optar pela via da conversão, da mudança, da humildade.

 

Muitos afastam-se da Igreja porque entendem que a Igreja está a afastar-se de Jesus.

  

Nos tempos de cristandade, havia perguntas que nem sequer eram formuladas. Nos tempos que correm, há inquietações que as pessoas exigem ver correspondidas.

 

 

4. Os maiores representantes da Igreja não podem ser vistos como os que mandam, mas como os que servem.

 

Em Jesus, Deus entra na nossa história não pela via da opulência, mas pela via da humildade.

 

Divino, com feito, não é o grande caber no grande. Isso qualquer humano consegue. Divino é o infinitamente grande caber no infinitamente pequeno.

 

Vale a pena recordar, a este propósito, a máxima de Hölderlin: «Não ser abarcado pelo máximo, mas deixar-se abarcar pelo mínimo, isso é que é divino».

 

De facto, Deus inverte o máximo e o mínimo, o maior e o menor, o grande e o pequeno.

 

O máximo é o que parece mínimo. O maior é o que se apresenta como menor. O verdadeiramente grande é o que nos surge como aparentemente pequeno.

publicado por Theosfera às 00:00

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