Pressinto que a festa de logo à noite tem mais sabor a evasão do que a celebração.
As pessoas querem, sobretudo, esquecer por instantes as agruras de um quotidiano inclemente.
A paisagem das almas ressuma abatimento. O esgar dos rostos denuncia melancolia.
O meu coração fica apertado e condoído, solidário e impotente.
Nestas últimas horas do ano, parece que está a haver mais uma vaga de despedimentos.
As pessoas já sabiam que os salários iriam baixar e o custo de vida subir. Agora, muitas são confrontadas com o desemprego.
Não se vislumbra bonança para os próximos tempos.
A tempestade pode ter feito uma pausa no exterior, mas há temporal com fartura no interior.
O poder sufoca as empresas. As empresas não aguentam e despedem.
2010 vai-se embora. Não deixa saudades. Deixa, sim, uma herança. Uma herança pesada. Quase insuportável.
Mas não esganemos a esperança.