Creio que terá sido Churchill, homem de língua afiada e pensamento fulminante, a dizer que as condecorações não se pedem, não se recusam e não se usam.
Há, no entanto, quem, além de não as pedir e usar, tenha a coragem de as recusar. E à frente de quem as atribui.
O caso passou-se no Brasil e dá que pensar.
O Bispo emérito de Limoeiro do Norte, D. Manuel Edmilson da Cruz, de 86 anos, recusou a Comenda de Direitos Humanos D. Hélder Câmara, entregue, no Senado Federal, a pessoas que se destacaram na defesa dos Direitos Humanos.
D. Edmilson disse que receber a Comenda seria «um desrespeito aos direitos humanos do contribuinte» por causa do aumento de 61% do salário que os parlamentares deram a si mesmos na semana passada.
«A condecoração hoje outorgada não representa a pessoa do grande D. Hélder Câmara. Desfigura-a. Sem ressentimentos e agindo por amor e por respeito a todos os Senhores e Senhoras, pelos quais oro todos os dias, só me resta uma atitude: recusá-la!», disse o bispo.
Para D. Edmilson, o aumento do salário recebido pelos parlamentares deveria ser na mesma proporção do aumento do salário mínimo e do aposentado.
«O aumento deveria observar sempre a mesma proporção que o aumento do salário mínimo e da aposentadoria. Isto não acontece. O que acontece, repito, é um atentado contra os Direitos Humanos do nosso povo».
Trata-se, sem dúvida, de um gesto de grande densidade profética e com um profundo alcance natalício. Ele respeita a iconografia do presépio pois está em linha com a simplicidade de Jesus.
Este bispo merecia a distinção. Contudo, recusou-a.
Ficou, porém, com a melhor condecoração: a do dever cumprido.
Como é refrescante a atitude de um homem livre!